sábado, 17 de abril de 2010

A ponderação masculina ante seus desejos por sexo.

   Ela está zangada. Não quer falar com ele pois suspeita de uma traição a longo prazo. O que fazer, ainda não sabe, mas com certeza, 'sexo' é a última coisa que fará além desistir da vontade de afogá-lo naquela banheira suspeita do quarto de motel.

-Eu já falei que isso é coisa da sua cabeça!
-Anham...é bem em 'minha cabeça' mesmo que isso se encontra!
-Putz, você tá exagerando. Vem cá benzinho...

   E ela se levanta e vai até o frigobar. Para tristeza de Marcos que pensava estar amolecendo o muro de Berlin, tocava-a mas Bárbara acabava se esquivando. Abriu, e se deparou com o pequeno eletrodoméstico repleto de cervejas e água. Não sentiu vontade de ingerir nada daquilo, mas sabia do defeito terrível dele: ser muquirana.
   Decidiu então gastar uma boa quantia no motel. Ele iria pagar a traição nos dois lugares onde mais amava: na cama e no bolso. Pegou logo de cara, duas cervejas, sem sequer oferecê-lo,  fazendo com que o miocárdio do rapaz entrasse em ritmo de bateria da Portela. Mais tarde, pediria uns pratos de comida também.
   Ela o ignorou, sentando a borda da cama redonda cercada por espelhos. Ele por sua vez, a fitou, e lentamente, tentou se aproximar, o que foi meramente repudiado. Ela estava mesmo zangada...

-Bárbara, fala comigo...

   Já que ela não o respondia, ele então decidiu usar um de seus truques antigos. No início do namoro, a tática sempre funcionou, e agora, Marcos tentava persuadí-la da mesma maneira...
  Foi até a cabeceira da mesinha que acompanhava o contorno da cama, e procurou por uma caneta. A encontrou mas em seguida se viu sem papel. 'E agora?'
 Remexeu por entre o cardápio de preços e serviços do lugar e viu que havia um bloco de papel meticulosamente embrulhado,o qual era oferecido de brinde aos clientes. Serviria exatamente para o que queria...
 Desembrulhou o pacote, retirando o bolinho de papéis amontoados. Viu a logomarca do motel em cima, e pensou que ao ler aquele nome, poderia soar menos romântico do que a idéia propunha. Então, retirou uma pequena quantidade do pacote, rasgando a parte superior onde se encontrava o nomezinho verde do lugar. Agora, estava excelente...
 Escreveu a frase certa, para amolecer o coração impetuoso e desconfiado de Bárbara...


''I heart you, Bah!''

   Escreveu as linhas correspondentes ao caminho que levava a namorada ao paraíso chamado ''ele me ama!''. Sabia da predileção de Bárbara por demonstrações públicas ou materias de que a amava e com certeza, seu truque poderia salvar a noite e a dor que sentia por tamanho prazer reprimido.O saco apertava.

    Bárbara, não se deixando amolecer com a tentativa, pegou o papel imerso em timidez aparente de seu amado, fingindo ignorar. Ele, insistiu para que lesse e ela assim, o fez!
    Percebeu que a coisa era mais séria do que tudo. Marcos só era romântico quando sabia estar perdendo o carinho dela ou quando queria salvar o namoro das vezes onde fazia alguma coisa a qual ela repudiava,  e isso Bárbara pôde atestar durante os anos de namoro: certa vez, quando ele viajou e esqueceu de levá-la, deixando-a plantada em frente ao portão por duas horas, na semana seguinte,  mandou preparar um outdoor em frente à casa dela, com os mesmos dizeres do bilhete. Entre inúmeras demonstrações de afeto, a tirar as do início do namoro, as quais eram despretensiosas, as outras eram completamente usadas como desculpa, quando algo ia mal, ou perto disso.
    Ela, envolta num misto de raiva e sentimento de vingança, pensou em pedir uma faca ao serviço de quarto e cortar o pseudo-pênis de seu namorado. Era pequeno e sem graça, mas o amor que sentia por ele supria quaisquer insatisfações sexuais.Desistiu de castrá-lo e obrigá-lo a virar padre. Pegou então o bloquinho de papel que ele a entregou, e usando a mesma caneta, escreveu um bilhete de volta....
   'Consegui!' - Pensava ele enquanto percebia que ela agora o respondia, mesmo que fosse através de papel. Sentiu que a noite poderia estar salva,e recostou a cabeça no travesseiro, como se aquilo significasse 'a bandeira branca'. Bárbara só escrevia...
   Ela pensou em desculpá-lo, já que não era a primeira vez em que ele aprontava. Pensou nas vezes onde ele a deixou feliz e que certamente ainda o amava com a  mesma intensidade de antes. Pensou, pensou mais um pouco, e lembrou da semana passada,onde perdeu o capítulo final da novela por culpa dele,que a deixou esperando no trabalho  por 5 horas, alegando depois que o 'pneu' havia furado.

   'Droga!' - Pensou ela. Não havia motivos para perdoá-lo e ter ido ao motel foi estupidez de sua parte.Não sabia oque fazer então e jogou o bilhete na cama, rabiscado mas sem frases inteiras...
      
   Marcos, levando o papel as mãos, viu que não havia nenhuma resposta. Enfurecido e com o pinto na mão, sentiu vontade de tê-la nem que fosse a força, pois para ele aquilo era apenas 'capricho' e 'ciúme bobo'...Olhou para Bárbara, que estava aflita sem saber o que fazer, e começou a falar...

-Olha só como estou! Vai passar a noite toda só bebendo cerveja e com essa cara amarrada?
Ela o ignorou, mas ele continuou...

-Eu sempre faço o que você quer! Aguento a sua mãe, aguento seus irmãos evangélicos e aguento até a sua bunda, que está mole! Poxa, tudo isso sem reclamar e não mereço nem uma 'mãozinha'?

'Bunda mole?' - Ela não sabia se tinha escutado aquilo mesmo. Podia falar da mãe, dos irmãos chatos e até do cabelo dela,  mas da bunda não! Era sagrado! Território inócuo.
Olhou para ele como se engolindo a raiva e transformando em vingança. Aguentou a indiferença dos últimos meses, as ausências, as falhas e até a traição, mas falar da bunda ela não perdoaria!
 Desabotoou a blusa, e num lance, retirou, deixando os seios expostos.
 Ele, bastante animado, pensou enfim que a noite começaria a melhorar!
 Sentiu um acréscimo de orgulho invadindo seu peito, e tornando a escrever no papel, decidiu o que iria respondê-lo...
  Antes, insinuou com o olhar e gestos, que iria dar a 'mãozinha' que ele esperava...
  Marcos, sôfrego de tesão, deitado, encarava sua amada, que sorria ...
  Pegou o bilhete, e ansioso pela resposta, se surpreendeu com ela.
-Porra Bah! Volta aqui!

E ela agora, saindo do quarto,  vestida da cintura pra baixo e com a blusa na bolsa, descia as escadas que davam acesso a garagem. Deixaria-o pelado naquele quarto, e com a resposta que bem lhe cabia, na palma de sua mão!

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