domingo, 19 de janeiro de 2020

Nebulosa

Fiquei de olho na janela hoje, daquelas emolduradas e embaçadas pela morna poeira do cerrado, e percebi que não há nada de errado no laço que une as árvores por entre a floresta de concreto, cimento e asfalto..
Filhas únicas de rizomas alheios, sementes que brotam diretamente do seio, preenchendo em cheio o que nos resta em anseio. São árvores frondosas, particularmente frondosas, rasgam o céu igualmente azul, sem nuvens ou máculas de nebulosas. Qual a sensação de pertencer a algo?

Fiquei imaginando como será fazer parte desse  sentimeto único ausente pela cidade. Estamos em desencontros, mesmo com todo o laço que nos une sem saudade. Como será se sentir inserido, tal o colo de uma mãe -suficiente abrigo-, nesse mar de gente indiferente, filhos únicos de pais ausentes ?
Não há nada de errado em pensar demais, ou sentir demais. Quisera poder dizer o que cá dentro em anseio não consigo viver jamais, posto que já não me pertence mais essa matéria toda de a algo único pertencer, me restando apenas o silêncio do medo desse mundo todo não mais em mim, caber.

Dos contrários que habito, ser incomum me traz algum acalento. Já fui outrora vento forte, incomum e violento, derrubei cercas e todas as árvores frondosas que hoje emolduravam os vidros embaçados pela cidade. Já fui tempestade, hoje teimo em calmaria, posto que não há mais em mim espaço algum pra euforia, apenas vazios que insisto em preencher com coisas que pra ninguém -além de mim-, sentido algum faria! 

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