Eu já não sei mais se é, se dá ou se vou acreditar no que diz a razão. Já ignoro os fatos, já driblo os carros, numa tentativa de me eleger chefe da minha própria tribo: a dos sinceros! A tribo que doa a quem doer, está sempre no bonde da verdade. A mentira, quando construida, destrói o que poderia nascer com a verdade, e desde que mundo é mundo, as coisas são assim. Não sou uma exímia contadora da verdade - vivo mentindo sempre às segundas-feiras, dizendo começar uma dieta, que nunca começo. Menti pra cabeleireira, pro guarda e até pra mim mesma, quando esqueci de mim e contei ao mundo quem eu era.
A verdade é que a verdade nunca me pareceu tão amarga quanto agora. Nunca me foi tão conveniente fingir a mentira e escantear a realidade. Admitir que não sou nem de longe aquilo que sempre se almeja nesse momento não é apropriado, e a vontade que tenho é de gritar, sem mandar recado. Não acredito em contos de fadas, mas sempre torci por um final feliz, mesmo que de brincadeira, mesmo que de mentira.
E talvez por isso, eu tenha que aprender a conviver com os sapos, aqueles que não se tornam príncipes, que não vão nem em cem anos, me tornar feliz, mas sim, que vão mentir, mentir e mentir, numa tentativa de enganar quem não engana a si mesma...